segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Dicas Para O Mestre

RPG é sem dúvidas um dos jogos que mais exige de seus participantes acuidade mental, seja para encarnar perfeitamente seu personagem, resolver dilemas ou sair de situações difíceis que surjam durante o decorrer dos jogos.
Todos os participantes de uma mesa de RPG sofrem uma certa carga durante a partida, e é claro recebem a devida recompensa na forma de uma diversão limpa, de baixo custo além dos benefícios gerados pela atividade mental e social que são facilmente reflexíveis no seu próprio dia a dia. Porém não se pode negar que um dos participantes de uma mesa de RPG sofre mais pressão e se esforça mais que os outros, O Narrador.
Narrador - ou Mestre como também é chamado - tem um papel crucial nos jogos de RPG, pois enquanto cada jogador deve encarnar seu próprio personagem e controlar suas ações e pensamentos mediante os desafios que apareçam diante dele, cabe ao mestre interpretar simultaneamente diversos NPC´s (personagens-não-jogadores) além de arcar com a responsabilidade de montar o enredo básico da aventura, descrever o cenário e é claro fazer com que os desafios ocorram para que a aventura flua.
Se fossemos fazer uma comparação entre uma partida de RPG e uma viagem de canoa, cada jogador controlaria seu barco enquanto o narrador controlaria todo o rio. Narrar RPG não é algo fácil de fazer para os menos experientes e ainda menos fácil para os veteranos, já que cabe a um bom mestre sempre buscar melhorias em seu estilo em uma evolução interminável na tentativa de realizar o jogo perfeito.
Por mais que um jogo perfeito seja utópico e que a idéia do RPG é ser divertido acima de qualquer outra coisa, todo narrador que se preze sempre tenta melhorar, não importa o quão experiente ele seja. Na verdade a tendência em que os experientes exijam bem mais de se mesmos do que os novatos.
A experiência do narrador traz para ele uma séria de benefícios que são de grande valia para a qualidade do jogo. Embora não se possa medir a experiência ou transferi-la de uma pessoa para outra, algumas dessas “dicas” foram reunidas aqui como forma de ajudar osnarradores menos experientes a atentar para detalhes e técnicas importantes.
Vale sempre lembrar que nenhum dos conceitos mostrados aqui é algum tipo de verdade suprema ou indiscutível. Caso não concorde com alguma das idéias mostradas simplesmente não as use, elas visam ajudar e não mudar ou controlar seu estilo de jogo.
O Narrador
Primeiro vamos definir o papel do narrador. Ele não é apenas um sujeito que controla os NPC’s superpoderosos enquanto se delicia com o desespero dos jogadores. O papel do narrador é o de criar a estória, seu enredo e seu desenvolvimento. Ele o faz em conjunto com os jogadores mas existe uma grande diferença entre eles, pois o narrador é teoricamente onisciente, ele sabe como a estória começa e tem uma noção de onde ele quer que ela termine, por mais que isso possa sofrer (e normalmente sofre) alterações durante o decorrer do jogo. O narrador sempre deve saber o que aguarda os jogadores atrás da próxima porta, e por isso ele detém o poder e a responsabilidade de fazer com que o jogo flua de maneira harmônica e interessante.
Como construir sua aventura
Ao se dispor a iniciar um grupo de jogo é fundamental que o narrador saiba em que está se metendo. Ele precisa saber se é capaz de narrar uma aventura satisfatória e é claro ele precisa planejar a aventura. Por mais que os planos do narrador possam mudar, ter um plano original sempre ajudará a pensar nos próximos eventos. O narrador deve montar uma teia de eventos e personagens, sobre a qual os jogadores construirão o jogo em si, por mais que o narrador não possa controlar o jogo, ele deve ao menos influenciar para que lado a estória irá pender. Os jogadores terão grande influência nisso mas é do narrador a maior parte da responsabilidade sobre isso.

Esse planejamento do narrador pode ser antes da sessão iniciar e ajudará a lidar melhor com qualquer imprevisto.  Alguns pontos são fundamentais nessa etapa de preparação.
Escolha do cenário — Onde os eventos ocorrerão? 
Selecionar o cenário com antecedência torna todas as descrições de cena mais fáceis, precisas e objetivas. O narrador não irá precisar criar uma imagem mental do local para então descrevê-lo para os jogadores, ao invés disso ele já terá isso planejado e talvez até mesmo escrito, assim ele saberá exatamente o que ele quer descrever, sem rodeios excessivos ou descrições terrivelmente vagas. Descrever o piso, a mobília e a iluminação de um cômodo torna a cena bem mais interessante do que apenas afirmar que existe um corpo jogado no chão. O narrador não precisa planejar isso para todos os locais do jogo, apenas os mais importantes já serão de boa ajuda.

Como efeito disso os jogadores naturalmente confiarão mais no narrador, todo jogador respeita e admira um narrador que demonstra saber o que está fazendo bem mais do que aquele que parece estar perdido ou confuso entre uma cena e outra.
Escolha dos envolvidos — Quem pode aparecer? Quem não pode?
Outra coisa que merece atenção especial do narrador são os NPC’s. Eles são uma parte fundamental do jogo e como tal, devem ser utilizados da melhor forma possível. Planejar quais NPC’s aparecerão durante o jogo e quais não aparecerão evita um sério problema enfrentado por muitos narradores, a sobrecarga de NPC’s.

É muito comum que os narradores criem NPC’s novos sempre que surge a necessidade, e muitas vezes esses NPC´s são esquecidos ou deixados de lado logo depois. De maneira contrária existem aqueles que abusam demais de um mesmo NPC o tempo inteiro, o que acaba rendendo a esses NPC’s o apelido de PdM (Personagem do Mestre).
Perder o controle disso deixará o narrador em maus lençóis, pois a introdução de NPC’s novos a cada instante é desgastante e difícil para ele e para o grupo. Já a manutenção dos mesmos NPC’s por longos períodos torna o jogo monótono.
Renove sempre os NPC’s, mas o faça no ritmo mais adequado para você e seus jogadores.
Criação de ganchos — Como esses eventos irão afetar o jogador “A”? E o “B”? Há algum interesse deles em jogo?
Facilita a formação do grupo e evita divisões imprevistas. Afinal nenhum personagem entra em uma aventura só por entrar. É necessário um “pote de ouro no fim do arco-íris”. Imagine que um dado narrador tente criar uma aventura onde um ladino ajudará um paladino em uma jornada para salvar um reino. O que impedirá o ladino de simplesmente rejeitar a proposta? Deve existir algo ligando ele ao enredo, talvez um tesouro ou uma linda dama... Dessa maneira seu jogo não parecerá forçado, cada personagem terá algo ligando-o a trama, sem pontas soltas, sem personagens saindo de trás de uma árvore ou caindo do céu no meio do jogo, sem NPC's super poderosos coagindo os personagens.
Criação de laços — Como o jogador “A” e o jogador “B” vão interagir? Por que eles vão se ajudar?
narrador sempre deve saber o que esperar de seus jogadores. Saber como eles podem reagir a determinado acontecimento ou situação, o que inclui situações internas, geradas por conflitos ou afinidades entre os personagens. Um narrador que não atenta para esses detalhes pode sofrer com surpresas muito desagradáveis.
Um grupo que permanece unido e, sem aviso prévio, se separa devido a uma discussão por exemplo, pode inutilizar completamente os planos de um narrador.
Por outro lado o narrador está atento para esses detalhes, terá em mãos uma poderosa ferramenta que poderá ser usada para gerar diversas situações e dar novos ares ao jogo quando necessário. Saber usar os conflitos entre os jogadores contra eles próprios certamente irá dar um toque todo especial ao jogo assim como usar as afinidades entre os mesmo permitirá tentativas de planos mais ousados e meticulosos!
Determinação da linha de tempo — Quais eventos ocorrerão durante o jogo e em que sequência?
Ajuda a evitar perdas de foco durante o jogo ou momentos de monotonia quando não tem nada acontecendo. Se você planejou que previamente que durante a noite ocorreria um ataque à uma cidade e os jogadores estão longe, eles vão encontrar apenas o que restou dela quando voltarem.
Isso aumenta a expectativa sobre o jogo e torna cada decisão do grupo mais importante, afinal o mundo não para de girar só porque eles entraram na taverna ou pegaram um desvio errado na estrada!
Se os jogadores sentirem isso na pele, eles irão sem dúvidas ponderar muito mais sobre suas ações e permanecerão bem mais atentos ao jogo. Para o narrador isso permite planejar melhor os próximos passos sem a necessidade de improvisos constantes.
Determinação de finais e alternativas — Quais desfechos são os mais adequados? Quais podem de fato ser alcançados?
Ter uma noção do final alternativo sempre permitirá melhores descrições e evitará finais “vazios” ou “sem graça”. É muito frustrante pra umnarrador, desejar fazer um jogo épico que termina na primeira sessão quando os jogadores caem em uma cilada qualquer. Ao definir os possíveis finais o narrador automaticamente cria mecanismos de escape contra as possíveis (e prováveis) pérolas de seus jogadores e evita aqueles momentos de silêncio constrangedor quando o narrador não sabe como dar sequencia à narrativa.
Sempre saiba quais serão as conseqüências possíveis em uma dada situação; se existe risco de vida ou se tudo tenderá a terminar bem. Tente se manter o máximo possível atido a isso para que o jogo não pare de fluir, mas não hesite em abandonar uma rota pré-estipulada se ela parecer improvável de ser alcançada; caso isso ocorra passe o quanto antes para um plano B, o jogo não pode parar!
Esses passos parecem simples, mas determinar cada um deles antes do jogo começar tornará sua sessão muito mais produtiva. Esses pequenos detalhes podem ser a diferença entre um jogo bem interpretado e um típico Hack-and-Slash. É claro que os planos de umnarrador jamais podem ser rígidos demais, a ponto de tirar a liberdade de seus jogadores, mas jamais devem ser tão frouxos a ponto de depender apenas da iniciativa deles.
Dica de mestre: Criar suas aventuras na base do improviso não está errado, mas improvisar o tempo todo é bem mais cansativo do que improvisar só quando necessário. Pense nisso!

Nenhum comentário:

Postar um comentário